Olhem ao seu
redor, crianças, a cidade dorme e vocês estão tão vivas. Tão vivas como nunca
antes em suas vidas. O mundo está quieto agora, mas a vocês atormenta essa
impulsiva vontade de gritar, essa impulsiva vontade de viver.
Observem bem,
crianças, o mundo está acabando, mas a vida de vocês está apenas começando.
Sobreviventes de um século que mal terminou, da última infância antes de toda
essa sobrecarga digital.
Prestem atenção, esse é um daqueles momentos
que não se permite ao tempo apagar. Um daqueles momentos feitos para se guardar
acompanhado de um sorriso saudoso.
Pouco importa
a fase em que a lua se encontra no céu, ou a quantia de estrelas que estão a
brilhar, pelo menos por esta noite. Já não importa o risco que se corre. Importam
apenas as luzes da cidade vazia, tão vazia como nunca se viu antes num domingo
à noite. Importam apenas os sorrisos daqueles cujas vidas vocês escolheram
cuidar. Importa apenas fazer diferente e ao mundo mudar.
O amanhã virá
trazendo o cansaço de todo esse trabalho, mas trará também sorrisos de
paz. E então o amanhã também vai passar.
Olhem bem,
crianças, há uma semente de poderes mágicos por aqui, uma semente chamada
esperança. Levem-na consigo, cuidem bem e não a deixem de lado quando a semana
passar ou quando o mês virar. Não permitam que suas responsabilidades matem
esta semente nem mesmo quando um ano mais calmo chegar.
Mesmo que já
não sejam tão crianças, não se permitam esquecer que dentro de vocês ainda
vivem crianças. Pois ser criança é também acreditar num mundo melhor.
Categories:
Crônicas,
Cronologia