Tola menina estática a sorrir para o computador diante da declaração inesperada. Tola menina distraída a sorrir para a vida diante das possibilidades a surgir. Tola menina a divagar, com um frio na barriga, aonde o passo seguinte vai levar. Tola menina apaixonada.

Menina que fez de sua vida um roteiro pré-programado, datas pré-marcadas e sonhos tão bem organizados. Esqueceu-se, contudo, que os melhores momentos não estariam marcados em seu calendário. Esqueceu-se que os melhores dias chegariam ao acaso, numa segunda-feira ensolarada ou numa inusitada quarta nublada.

Tola menina mulher a sonhar que sua vida poderia fugir dos clichês de cinema, que poderia ser personagem secundária e viver sua vida bem estruturada. Menina tola em não perceber: aprendeu a viver apaixonada, aprendeu a viver em sua realista terra de ficção afinal.

E chora feito criança ao perceber: não vai funcionar. A vida não se programa como uma agenda escolar ou um computador. Na vida não se marca data para se apaixonar, como não se sabe em que dia ela, a vida, irá acabar. Na vida se vive de metamorfoses constantes.

E talvez seu erro seja não errar. Talvez a melhor maneira de seguir os planos seja não planejar. Talvez a vida venha numa previsível sequencia de acasos inesperados. Talvez precise se perder para se encontrar.

Louca menina apaixonada a esquecer-se então do amanhã e viver da insanidade do agora. Já não teme as feridas que possa ganhar, arrisca-se em falar de sentimentos que outrora preferia ocultar. Insana menina amada a perder-se em lençóis, em suor, em amor. Apenas vive e deixa a vida seu rumo tomar.

Ainda soa absurdamente estranho poder te dizer que gosto tanto de você!




Obs. Texto escrito em algum ponto do começo de 2014, quando os dados foram jogados e tudo mudou. Inspirado em K., portanto, não merece dedicatória. O título não poderia ter sido mais apropriado.


Obs. Todas as falas utilizadas foram retiradas dos livros (O Prisioneiro de Azkaban, O Enigma do Príncipe, As Relíquias da Morte).

Personagem: Peter Pettigrew

Disclaimer: Nenhum dos personagens citados na fanfic me pertence.

Homem Rato


Tolo garoto, o que fez de sua vida?
O que fez de seu futuro perdido?
Pensaste em todos os crimes que cometeu?
Pensaste nos amigos que perdeu?



- Você vai me matar? – Já havia matado antes, sabia o que fazer. Por que não?

Mas ele era Harry Potter. De nada importava ser o garoto que sobreviveu. Importava somente que era o garoto que salvou sua vida. Importava somente que era o filho de James e Lily.

E Rabicho assim lembrou-se de quando era somente Peter, de quando era amigo, sorridente e grifinório. Lembrou-se de quando não era ainda o homem que nunca seria, de quando ainda não era rato que não escolheu ser.


Onde nasceu tua covardia?
Onde está a criança que tu foste um dia?
Em que buraco esconderam-se teus sorrisos?
Em que solo plantou teus sonhos perdidos?


- Perebas, fica quieto. Que é que há com você, seu rato burro?

O que havia com ele? Corria por medo daquele que fora outrora seu grande amigo. Amigos. Ron era mais um amigo que perdia. Corria usando um folego que não possuía. Talvez esta fosse sua sina, perder seus amigos pelo medo que não devia ser seu.

Corria sem pensar em tudo que fora um dia, nos motivos que o levaram a alcançar sua forma animaga.


Traíste teus amigos.
Traíste teu passado e teus juramentos.
Por quê?
Por medo da morte que um dia chegaria?
Por que temer o inevitável, homem rato?


- Se você foi um rato melhor do que foi um homem, não é coisa para se gabar.

Rabicho – pois neste momento ele não tornaria a ser o antigo Peter Pettigrew – sabia que Almofadinhas estava certo. Em algum lugar sua mente gritava com o peso da culpa pelo crime imperfeito.

Jamais quis ser um rato, jamais quis ser a sombra de James e Sirius. Jamais sonhou em ser um traidor. Jamais alguém envergonhara tanto a memória de Godric Gryffindor.

Mas era tarde demais para voltar. Era tarde demais para pedir perdão. Poderia somente seguir sua amaldiçoada sina. Poderia somente alimentar o orgulho que lhe restava.


Apenas um servo, não mais um amigo.
Foi para isto que cometeste estes crimes?
Sonhaste em ser o mais covarde dos criminosos?
Sonhaste em ser insignificante sombra?



- Rabicho vai nos preparar drinques.

Traíra seus amigos para sofrer as piores humilhações. Não valia a pena. Nunca valeu. Percebia então o absurdo dos crimes que cometeu. Crimes que mataram a si mesmo, que mataram quem poderia ter sido.

Sequer poderia chorar, sequer poderia se arrepender. Ninguém concederia o perdão que desejava ouvir. Ninguém confiaria no mais insensato dos traidores, nem mesmo outro traidor.

Não é pelos trouxas.
Não é pelos crimes.
Continuarei a pesar pelos amigos que traíste.
Continuarei a gritar aquilo que um deles te disse.


- VOCÊ DEVIA TER MORRIDO! MORRER EM VEZ DE TRAIR SEUS AMIGOS! COMO TERIAMOS FEITO POR VOCÊ!

As palavras tornariam a ecoar em sua mente após sua fuga. Após a morte daquele que as pronunciou. As palavras que distinguiam o que era do que deveria ter sido.

Devia ter morrido. Poderia ter sido um herói. Poderia ser um belo exemplo e motivo de lágrimas. Poderia ter provado que não era somente uma sombra. Devia ter visto a glória onde encontrou somente o medo.


Tu és homem ou rato?
És um maldito amigo ingrato.
Até quando me suportará gritar?
Até quando aceitará a vida que não merece?



- Depois que eu salvei sua vida? Você me deve uma, Rabicho.

Sim, ele devia. Devia sua vida imprestável. Ele fizera sua vida imprestável, duas vezes cometera o mesmo crime. A mesma maldita traição. Tornara-se somente o rato que nunca precisou ser. Que nunca sonhou ser.

Não poderia mata-lo. Era incapaz de errar pela terceira vez. Era incapaz de suportar novos gritos em sua consciência.

E pela última vez ousou trair. Trair àquele a quem nunca sonhou em servir. Traiu àquele a quem jamais deveria ter jurado lealdade.

Fim

Nostalgia


Um punhado de palavras borradas, rabiscos e tinta derramada. Um amontoado de quase nada. Todos os sonhos e planos de uma vida despejados em um futuro cruel que nunca chegaria.

Era tudo tão perfeito, ainda que cheio de defeitos. Aqueles sorrisos inexplicáveis, os olhares cúmplices, quase infantis, quase adultos (adultos que ainda não somos). Amizades sinceras para toda uma eternidade que não veio. Outro tempo, quando sentimentos rendiam bons segredos.

Hoje apenas gostaria que houvesse algum sentimento. Algum amor, alguma vontade irresistível de ver alguém e sorrir sem esforço. Apenas gostaria que restassem pequenos pedaços daquela inocência que ficou para trás com os sonhos repletos de detalhes absurdos demais.

E seriamos tudo: viajantes do futuro, mestres da história e centros da fama. Seriamos o melhor de nós mesmos, mas ainda haveria amizade. Ainda restariam os domingos para rever-se e provar daquela velha receita de bombom de cereja. Ainda restariam as férias para planejarmos viagens com nossas novas famílias.

Mas restaram apenas as lembranças formadoras de sorrisos nostálgicos. Os cadernos escolares guardam mensagens coloridas repletas das gírias que usávamos e hoje mal reconhecemos. Nas prateleiras os livros e presentes de aniversários passados. E no coração guardo essa saudade incurável.

Saudades do éramos e do que seríamos, saudades do mundo em que vivíamos. Não apenas falta daquela velha amizade ou de uma presença que ainda posso encontrar se bem procurar.

E no final resta apenas um buraco vazio nesta presente realidade. Os sonhos realizados ainda são futuro, mas as promessas são apenas passado.





Obs. Texto escrito antes de março de 2014, inspirado em J.A.G.S., dedicado a ela e a tantas outras amizades que o tempo afastou.