Ela tinha nome e sobrenome, tinha uma família que ficou para trás. Entretanto tornou-se apenas mais uma lembrança. Abandonada. Perdida. Encardida. Pobre Paty!
Sim, seu nome era Paty, mas por vezes chamavam-na Paty Maionese. E quando o diziam exibiam um sorriso sincero e quase infantil no rosto. Ela fazia parte daquela casa, não era apenas mais um objeto, como tantos outros viriam a ser.
Casara-se com Dom Coelho, apesar de todas as diferenças.Confusa família era aquela. Mas havia amor e carinho, havia abraços e conversas silenciosas na calada da noite. Não saberia dizer quantas noites passara em claro a procura de monstros, especialmente de um tal Bicho Papão.
E se fosse permitido à sua natureza, sorriria entre lágrimas de memórias intocáveis. Pois ela era a própria infância abandonada. Era a infância em tons de roxo desbotado e um vestido encardido. Era de uma espécie já extinta e bem amada, onde a inocência reinava.
Fora amiga, escutara lamentos e secara lágrimas. E quando a infância partiu Paty permaneceu ali para receber abraços exageradamente apertados. Doce Paty! Era nela que residia a infância de uma adolescente desligada.
Viveria ali para sempre, e quem sabe um dia viajaria para as terras além do mar. As terras dos sonhos que tanto ouvira falar. Até o dia em que seria entregue a uma nova geração.
Deveria ser assim, mas um erro imprevisível ocorreu. Paty era aquela que até mesmo as viagens compartilhava. Não foi além do mar, mas poderia ouvir o som das ondas quebrarem na areia tão próxima. Ela jamais viu o mar, apenas o escutou dentro de uma mochila repleta de cores.
Aquela foi a última noite antes do fim que todos os de sua espécie temem. Sobre um velho beliche alto demais ficou a zelar um sono de sonhos que seriam esquecidos ao amanhecer. Ficou a procurar pelos monstros que talvez jamais tenham existido.
Mas antes mesmo que a luz chegasse veio o despertar programado. Sob o silêncio viu aquela que a nomeara partir com um sorriso apesar do bocejar constante. Ainda não havia o que temer, a família a qual pertencia permanecia ali em sonos pesados, repleta de um cansaço agradável.
Aos poucos a luz invadiu o quarto através da janela e das cortinas trazendo um novo dia de janeiro. Paty ouvira na noite anterior alguém mencionar que seria aquele o último dia de viagem. Logo estaria em casa para rever Dom Coelho e conversar com Julieta. Também sentia saudades, afinal.
Ruídos no portão e sussurros incompreensíveis foram ouvidos, ela estava de volta. As conversas animadas se transferiram para a cozinha e com elas veio o cheiro agradável de café sendo preparado. Rapidamente todos acordavam para o novo dia entre sorrisos e planos. Crianças corriam, alguns serviam-se de café e bolo, enquanto outros substituíam pijamas por trajes de banho. Mesmo sendo um sentimento, a alegria estava ali em cheiros, sons e cores.
Paty ficou a observar, e se fosse possível sorriria acostumada com aquela rotina de férias. Sobre o beliche, entre cobertas e ao lado de livros bem cuidados. As horas passaram no breve silêncio que tomou conta da casa, silêncio temporário. Era assim, eles sempre voltavam sorridentes e cansados ao horário das refeições.
Entretanto, ninguém saiu logo após o almoço por mais que alguns clamassem por sorvete. De cabelos molhados ela veio, dobrou as cobertas e jogou-as sobre outra cama. Numa mochila cor de rosa organizou cuidadosamente livros e cadernos. E com um olhar disse à Paty “eu já venho te buscar”.
E nunca mais voltou.
Vieram dias sufocantes e noites mais escuras, veio a chuva a alagar e os ratos ruidosos. Veio o outono e o inverno. E Paty Maionese permanecia ali ouvindo apenas raros barulhos distantes da existência humana.
Talvez alguma criança sonhadora tenha enxergado a tristeza por traz da imundice acumulada sobre um vestido que outrora fora branco. Ou talvez algum caminhão verde tenha levado a ursa roxa para uma terra sem volta.
Mas a garota crescida, embora arrependida de sua falta de memória, nunca mais voltou.
Sim, seu nome era Paty, mas por vezes chamavam-na Paty Maionese. E quando o diziam exibiam um sorriso sincero e quase infantil no rosto. Ela fazia parte daquela casa, não era apenas mais um objeto, como tantos outros viriam a ser.
Casara-se com Dom Coelho, apesar de todas as diferenças.Confusa família era aquela. Mas havia amor e carinho, havia abraços e conversas silenciosas na calada da noite. Não saberia dizer quantas noites passara em claro a procura de monstros, especialmente de um tal Bicho Papão.
E se fosse permitido à sua natureza, sorriria entre lágrimas de memórias intocáveis. Pois ela era a própria infância abandonada. Era a infância em tons de roxo desbotado e um vestido encardido. Era de uma espécie já extinta e bem amada, onde a inocência reinava.
Fora amiga, escutara lamentos e secara lágrimas. E quando a infância partiu Paty permaneceu ali para receber abraços exageradamente apertados. Doce Paty! Era nela que residia a infância de uma adolescente desligada.
Viveria ali para sempre, e quem sabe um dia viajaria para as terras além do mar. As terras dos sonhos que tanto ouvira falar. Até o dia em que seria entregue a uma nova geração.
Deveria ser assim, mas um erro imprevisível ocorreu. Paty era aquela que até mesmo as viagens compartilhava. Não foi além do mar, mas poderia ouvir o som das ondas quebrarem na areia tão próxima. Ela jamais viu o mar, apenas o escutou dentro de uma mochila repleta de cores.
Aquela foi a última noite antes do fim que todos os de sua espécie temem. Sobre um velho beliche alto demais ficou a zelar um sono de sonhos que seriam esquecidos ao amanhecer. Ficou a procurar pelos monstros que talvez jamais tenham existido.
Mas antes mesmo que a luz chegasse veio o despertar programado. Sob o silêncio viu aquela que a nomeara partir com um sorriso apesar do bocejar constante. Ainda não havia o que temer, a família a qual pertencia permanecia ali em sonos pesados, repleta de um cansaço agradável.
Aos poucos a luz invadiu o quarto através da janela e das cortinas trazendo um novo dia de janeiro. Paty ouvira na noite anterior alguém mencionar que seria aquele o último dia de viagem. Logo estaria em casa para rever Dom Coelho e conversar com Julieta. Também sentia saudades, afinal.
Ruídos no portão e sussurros incompreensíveis foram ouvidos, ela estava de volta. As conversas animadas se transferiram para a cozinha e com elas veio o cheiro agradável de café sendo preparado. Rapidamente todos acordavam para o novo dia entre sorrisos e planos. Crianças corriam, alguns serviam-se de café e bolo, enquanto outros substituíam pijamas por trajes de banho. Mesmo sendo um sentimento, a alegria estava ali em cheiros, sons e cores.
Paty ficou a observar, e se fosse possível sorriria acostumada com aquela rotina de férias. Sobre o beliche, entre cobertas e ao lado de livros bem cuidados. As horas passaram no breve silêncio que tomou conta da casa, silêncio temporário. Era assim, eles sempre voltavam sorridentes e cansados ao horário das refeições.
Entretanto, ninguém saiu logo após o almoço por mais que alguns clamassem por sorvete. De cabelos molhados ela veio, dobrou as cobertas e jogou-as sobre outra cama. Numa mochila cor de rosa organizou cuidadosamente livros e cadernos. E com um olhar disse à Paty “eu já venho te buscar”.
E nunca mais voltou.
Vieram dias sufocantes e noites mais escuras, veio a chuva a alagar e os ratos ruidosos. Veio o outono e o inverno. E Paty Maionese permanecia ali ouvindo apenas raros barulhos distantes da existência humana.
Talvez alguma criança sonhadora tenha enxergado a tristeza por traz da imundice acumulada sobre um vestido que outrora fora branco. Ou talvez algum caminhão verde tenha levado a ursa roxa para uma terra sem volta.
Mas a garota crescida, embora arrependida de sua falta de memória, nunca mais voltou.
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Contos,
Cronologia
18 anos e estante com bonecos, ainda. Vencendo na vida estou eu, vdd.
shaushauhsaus Mas tirando a Paty ainda tenho os outros bichos de pelúcia e durmo com eles.