Censura: 16 (presença de drogas ilícitas).

Obs. O texto se passa na década de 60, inspirado no movimento hippie.







Um bilhete:

“Fui viver a vida. Não sei se volto.”


Levou consigo apenas uma mochila. Nela colocou todos os sonhos e esperanças do mundo.

Hesitou por um instante diante da coleção de discos e do rádio na sala de estar. Mas não havia o que temer, a música estaria por todos os lugares por onde passasse. O resto não importava.

As últimas estrelas brilhavam no céu quando abandonou o conforto do lar. Com os pés na estrada e a mochila nas costas sorriu para o mundo. Pois agora o mundo era seu, estava pronto para voar.

Sentindo o doce sabor da liberdade seguiu para longe, para qualquer lugar. Qualquer caminho servia. Qualquer lugar em que a paz e a música habitassem poderia ser seu destino.

Liberdade. Não solidão. Pois em sua estrada encontrou amigos, amores e abrigos que duravam somente uma noite. E foram muitos os amores, cada um com seus sabores. E foram muitas as músicas tocadas sob a luz do luar.

E foi numa bela noite estrelada que lhe ofereceram mais um novo e doce sabor. Pela segunda vez hesitou, lembrou-se de verões passados, quando prometera à sua mãe nunca tomar daquela droga. Pensou. Mas em toda sua vida sonhara com a liberdade, com suas próprias escolhas. Assim tomou em suas mãos o cigarro que não era de tabaco. E riu. Riu da fumaça, riu da vida.

E assim o pássaro preto voava. Sem importar-se com tudo que ficava para trás, com as esquinas dobradas. Pois tudo que vivera antes fora o sonho com aquela liberdade.

E os meses e estações passavam em seu voo. Talvez fosse preciso pousar. Talvez nem a liberdade seja eterna. Mas antes seria preciso sobrevoar a mais bela praia, viajar pelo mais doce sabor. Este sabor que tinha gosto de música, de paz e amor. E ao tempero da droga também tinha cor.

Não foi em qualquer lugar que ele a encontrou, não foi em qualquer esquina. Tratava-se da maior festa da música, do rock. Tratava-se de Woodstock. E era a festa da paz e da liberdade. E ele esteve entre aqueles que derrubaram os portões e as barreiras. Que fizeram daquela a maior festa da paz.

E por acaso ou destino, encontrou-a no mar. Mar que era de pessoas, mar que era da paz. E de todos seus amores ela era especial. Dentre todos os sabores provados ela era o mais doce. Dentre todas as drogas ela o fez ver todas as cores do futuro.

O som da boa música sempre ecoaria em sua mente, assim como as próprias cores tão vivas que via. E seria ali a última praia que o pássaro preto sobrevoaria. Não seria ainda o último cigarro, mas seria a última dose de LSD, a última dose de tantas cores.

E o pássaro preto ainda viveria para amar. E ainda seria quem ele sempre sonhara em ser. E o pássaro preto era também de todas as cores.

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